Gerson Walber e o fotojornalismo: amor ao primeiro click
Quem vê a felicidade e o alto astral de Gerson Walber fotografando percebe que ali está um profissional que faz o que gosta e faz bem feito. A disputa pelo espaço, o ajuste para ter o melhor ângulo, a melhor luz, tudo isso de forma muito rápida e precisa. Afinal o click certo eterniza o momento.
A conversa aqui é sobre fotografia, sobre os melhores momentos, sobre o futuro. Tem projeção sobre o que será a fotografia mais adiante e dicas de livros, mas para mim o maior destaque é que Walber fez da fotografia sua profissão e da profissão algo agradável que se encaixou muito bem para ele.
Muitas pessoas não compreendem a diferença entre fazer o que se gosta, e gostar daquilo que se faz. Essa geralmente é a maior dúvida na hora de escolher uma carreira, mesmo para aqueles que já estão inseridos no mercado de trabalho. Traz até sofrimento para profissionais já avançados na carreira.
Exemplos como de Walber nos mostram que sim, é possível reunir tudo em torno daquilo que você gosta ou aprendeu a gostar. É importante aprender sempre, estudar, buscar superação e manter uma boa relação com o meio no qual você atua.
Gerson Walber fotografa há 23 anos, mas não se fecha para o aprendizado e a capacitação, tampouco retém conhecimento, e até seu acervo de fotos, muito amplo, é sempre disponível. É o tipo de profissional que toda a equipe gostaria de ter. Gerson Walber é fotojornalista em Campo Grande, Mato Grosso do Sul e para mostrar tudo isso mais de perto, fiz algumas perguntas para ele. Confira:
Carlos Kuntzel – Quem é Gerson Walber?
Gerson Walber – Um fotojornalista apaixonado pelo que faz e apto às mudanças.
CK – Como você se define?
GW – Feliz acima de tudo, pela escolha que fiz profissionalmente, sempre com muita vontade de melhorar a cada dia e estar em constante evolução, me cobro muito.
CK – Como você chegou à fotografia? Por onde já passou? Fale da sua carreira e da sua experiência.
GW – Foi uma oportunidade que surgiu, em 1997, na época uma empresa de eventos sociais estava precisando recrutar fotógrafos e começaram a fazer cursos de fotografia. Na primeira aula já fiquei fascinado pela arte fotográfica e nunca mais parei. E assim comecei minha carreira, como fotógrafo de formaturas e eventos sociais, viajei a região norte do país registrando esses momentos de ápice da vida das pessoas. Nesta época que iniciei ainda era filme, quando voltava para a empresa, que ficava em Cuiabá-MT, sempre conferia meus negativos com os laboratoristas, estes me mostravam aonde eu podia melhorar meu enquadramento e luz. Aprendi muito com eles. Aqui comecei a fazer minha máxima profissional: de ser melhor a cada dia, observando e ouvindo com os mais experientes. Logo se passaram alguns anos e sempre gostei do fotojornalismo, o registro histórico de nossos dias atuais e foi quando vim para Campo Grande, já estava cansado dos eventos sociais, trabalhei inicialmente aqui na capital morena numa concessionária de tratores e foi quando abriu uma vaga no extinto Jornal Diário do Pantanal. Iniciou-se minha carreira como fotojornalista em 2001 e nunca mais parei.
Do Diário do Pantanal saí e fui contratado no Correio do Estado. Lembro da felicidade de fazer parte do maior jornal impresso do MS, foram aproximadamente 12 anos registrando a história do nosso Estado, com cotidiano das pessoas, vindas de Presidentes da República, etapas nacionais de automobilismo, bem como jogos da seleção brasileira, sendo uma pelas eliminatórias da Copa do Mundo. Após o Correio do Estado, migrei para a mídia eletrônica, Jornal Midiamax, outra experiência ímpar, com imagens sendo enviadas quase que instantaneamente para a redação. Querendo novos desafios na carreira, fui para a assessoria de imprensa da Prefeitura de Campo Grande, fiquei por um breve período e retornei para o jornalismo diário através do Campo Grande News. Foram ótimos seis meses de trabalho até que um novo projeto apareceu: a assessoria de imprensa da OAB-MS em que estou até hoje, registrando a vida diária desta instituição.
CK – Como você define a fotografia?
GW – A fração de segundos da vida registrada para eternidade.
CK – Qual o trabalho que mais gostou de fazer?
GW – Foram vários, mas as coberturas envolvendo a Presidência da República sempre foram as melhores, a disputa de espaço e a melhor imagem junto com todos os jornais brasileiros é uma experiência única.
CK – Canon, Nikon ou outra marca? O que prefere?
GW – As duas são excelentes, trabalhei com as duas nas lidas diárias, atualmente utilizo Canon.
CK – Estúdio, natureza, eventos ou fotojornalismo? O que é mais empolgante?
GW – Fotojornalismo sem sombra de dúvidas.
CK – A pandemia transformou a imagem. Eventos cancelados, reuniões, aulas, congressos, formaturas, tudo por vídeo. Como você vê esse momento para fotografia?
GW – Ainda não vejo desta maneira que tudo foi para o vídeo. Ainda se utiliza a fotografia para chamar a atenção numa matéria que tenha o vídeo.
CK – Qual a perspectiva de futuro da fotografia?
GW – A fotografia como o instante registrado para a eternidade continuará por muito tempo, não acabará. De uma maneira mais ampla e saindo do fotojornalismo, vejo a fotografia de fine art com longa vida.
O celular, com boa câmera, impacta de que forma no trabalho do fotógrafo? Ou não interfere?
Acho que não interfere em nada, pois o que manda é a “peça” que vai atrás da máquina/celular.
CK – Eu acredito que a informação visual ainda é a mais completa. O que me diz sobre isso?
GW – Realmente, não existe contestação na imagem. É a síntese do fato.
CK – Direitos autorais de fotografia. Como está isso hoje, com tantas facilidades de acesso à imagem?
GW – Já temos alguns programas que nos protegem bastante, tem processos favoráveis aos fotógrafos, acho que isso será uma constante. Já esteve pior quando se iniciou o advento popular da internet.
CK – Você vende fotos em plataformas digitais? O que me diz sobre essas tecnologias.
GW – Não vendo, acho válido, mais uma forma para nós, fotógrafos aumentarmos a renda, mas eu não vendo ainda.
CK – Três de suas melhores fotos jornalística comentadas:
GW – Aqui não seria as melhores fotos, mas as históricas, que contam um pouco do que eu vi e registrei. Na foto acima, discurso do então Presidente Fernando Henrique Cardoso na inauguração da primeira usina termelétrica do país, Willian Arjona, em Campo Grande MS.
Brasil x Venezuela pelas eliminatórias da Copa do Mundo no estádio Morenão em Campo Grande MS no dia 14-10-2009. Terminou empatado em 0 x 0, na imagem o camisa 9 da seleção brasileira, Luís Fabiano.
O último trem a passar pelo centro de Campo Grande. Registrei no dia 29/06/2004 às 22:48h.
Época era o começo da era digital das máquinas fotográficas. Saí da redação as 19h, quando chegava em minha residência, meu telefone tocou pedindo para retornar ao Jornal Correio do Estado, pois seria nesta noite que iriam retirar os trilhos da região central de Campo Grande. E assim aconteceu, trabalhei madrugada adentro para registrar o fim da era ferroviária pelo centro da Capital.
CK – Você pode indicar pelo menos dois livros, ou mais, que acredita que todos deveria ler.
GW – Indico de primeira o livro: “Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas” de Dale Carnegie.
Esse foi um livro inicial na minha carreira, aprendendo muito no trato das pessoas.
“Abusado – O dono do morro Dona Marta”, de autoria do jornalista Caco Barcellos. Mostra a situação nevrálgica dos morros do RJ dominados pelo tráfico de drogas e seu cotidiano.
Tem muita gente nova fazendo coisas maravilhosas em fotografia, assim como temos nomes históricos tais como Sebastião Salgado. Como você vê isso e deixe um recado para quem quer seguir a carreira da fotografia.
A fotografia é uma paixão, você registra visualmente a história, seja das pessoas, sua cidade ou País. Como toda carreira, precisa de dedicação, no fotojornalismo é preciso ler muito para sempre estar ciente do que está ocorrendo em sua volta para um melhor registro fotográfico.
P.s: Gerson Walber também foi meu professor de fotografia num curso rápido de equipamento e seu uso na prática. Aprendi muito.