Covid-19, minha mãe e o novo novo

Estou aqui, sentado do lado de fora do setor de atendimento de Síndrome Respiratória da Unimed. Tem outras seis pessoas sentadas em cadeiras de plástico, uma em cada canto. Tenho a impressão que agora isso faz sentido para essas pessoas. Creio que elas, assim como eu, estão com alguém em atendimento de Covid-19, lá dentro.

Algumas ainda abaixam a máscara para falar ao telefone, mas, de maneira geral, todos se mantêm em segurança e preservam a segurança do próximo.

Quem chega aqui não está assustado porque assistiu ao jornal e achou um exagero. Também não são as pessoas que acham que a pandemia é uma crise política.

Quem está aqui está aguardando uma pessoa querida ser atendida lá dentro no setor intensivo de Covid-19.

Quem está lá dentro é vítima de algum descuido, de alguma ignorância ou de azar mesmo. Quem está aqui fora é vítima desse descuido ou dessa ignorância e agora, potencialmente, é alguém que pode se infectar.

Tudo bem, estou seguindo todos os protocolos de segurança desde o começo da pandemia. No entanto isso não parece suficiente.

Estou fazendo tudo certinho, mas, quando você começa a ver até o profissional de saúde falar com incertezas sobre o assunto, você se assusta mais ainda e fica até em dúvida sobre se está ou não fazendo certo.

É isso mesmo. Incertezas. Como não há remédio específico, mesmo medicado, a situação é instável. Minha querida mãe é quem está lá dentro agora. Hoje pela segunda vez, desde o diagnóstico de positivada para Covid-19, estamos no hospital.

Os apuros já vão para lá de uma semana. Começou com uma gripe, com um pouco de febre e muita dor de garganta. Levamos a um otorrinolaringologista e uma bateria de exames se iniciou. Bom, aí começa o primeiro drama. Tudo está lotado, até os particulares. Tudo precisa ser agendado e o exame principal de confirmação demora para sair. Faz tomomografia, hemografias, preparos e remédios e mais remédios.

O hemograma indica anormalidades. Mas, quando sai a tomografia, vem o primeiro susto, os pulmões estão bem comprometidos. A orientação é baixar no hospital. É, estivemos aqui, antes de ontem. Muita gente estava aqui também.

Bom, senha 15 preferencial para o atendimento. Umas duas horas depois ela entrou para a triagem. Nesse meio tempo saiu o resultado de positivo para Covid-19. Diagnóstico fechado, achávamos que, pelo quadro debilitado de saúde ela ficaria internada, mas não ficou.

Foi medicada e nos orientaram a levá-la para casa para repouso.

Demos graças a Deus, inclusive pelo cenário descrito por minha mãe, sobre como é lá dentro. Quem faz os exames chega próximo ao local onde as pessoas estão internadas e ela descreveu como assustador, pela quantidade de gente em movimento e os gritos e choros constantes.

Minha irmã resolveu que ela ficaria na casa dela, em um ambiente bem arejado, com acesso externo e com todo o conforto. A movimentação em torno disso é grande. Envolve uma força tarefa de limpeza e atendimento, além, claro, de estar num completo vácuo de conhecimento.

Sabemos o que tem nas notícias, nas redes sociais, o que o médico diz. Mas saber o que de fato está acontecendo é impossível. O inimigo é invisível e não temos as armas certas para seu combate.
Os remédios são quase placebos. Até combatem sintomas, mas, de maneira geral, não fazem nada. É o que se percebe.

O oxímetro, combinado com sintomas pode demonstrar algumas anormalidades. Então vamos lá. Compramos um e aprendemos a usar. Unhas sem esmalte, deixa por algum tempo no dedo e vamos ver quanto de saturação. O primeiro foi assustador. 84 é muito baixo. Será que o aparelho mediu certo. Bom, ele é de boa qualidade e tem certificação do Inmetro. Deve ser garantido. Falamos com o médico e ele orientou a alimentá-la, tendo em vista que ela estava em jejum para a tomografia e mesmo assim não sentia fome alguma.

Medicada e alimentada, foi para 91. Se manteve assim até hoje cedo, quando voltou a apresentar 84 de saturação de oxigênio.
Baixo demais. O médico manda voltar para o hospital. Iniciamos então pelo atendimento telefônico. Foi rápido e conclusivo. Leva para o hospital! Chegamos e por mais uma hora esperei, ela lá dentro e eu aqui fora. Finalmente chegou a vez da triagem. Acompanhei, respondemos a mais uma série de perguntas protocolares.

Concluído o procedimento, ela foi posta numa cadeira de rodas e levada para outra ala. Eu saí novamente e estou aqui fora.
Agora minha esposa está mobilizada para trazer um almoço para mim. Não posso sair daqui. Não sei em quanto tempo terei respostas.
Minha irmã está empenhada em higienizar o ambiente que irá, se Deus quiser recebê-la de volta em algumas horas.
A minha agenda de trabalho e a programação habitual se dissolveu. Já reagendei e terceirizei compromissos.

Máscaras e cuidados

Atenção – Isso não é uma reclamação. Isso é o relato que gostaria de deixar para todos os que não acreditam nessa doença ingrata, que não acomete só o infectado. É um conjunto de sofrimento coletivo, porque junto com tudo isso, tem a angústia no coração, por não saber o que será nos próximos minutos ou dias.

Sempre que passo por alguém sem máscara, ou com a máscara baixada, fico pensando no quanto de perigo e transtornos aquela pessoa está causando na sociedade. Quanto a irresponsabilidade de cada um, faz vítimas inocentes. Quem se cuida acaba pagando o preço do irresponsável que não toma os cuidados.

Minha mãe vai, se Deus permitir, passar por essa, mas não sabemos quando e nem com quais sequelas. Porém só de ver uma pessoa agitada, cheia de vida e de compromissos, se agarrando com unhas e dentes num fiapo de vida, já deu para ter desprezo por todos que não fazem o que deveriam fazer: escutar a ciência, e as orientações das autoridades.

A ignorância nunca levou ninguém a lugar algum. Essa é a Covid-19, a história da minha mãe hoje e esse é o novo novo. Respeite, o assunto é grave.