Relacionamentos são vias de mão dupla e só sobrevivem com amor e fidelidade

Não é romance. A conversa aqui é sobre casamento e relacionamentos duradouros. É sobre buscar respostas para o duro momento de quando tudo começa a ir ladeira abaixo e é preciso dar um novo passo na vida. Mas e qual o segredo do sucesso da relação a dois? Luzia Almeida Gonçalves Kuntzel é jornalista e autora do livro Crescer, Casar, Separar… e agora?, no qual conta histórias de relacionamentos que se desfizeram e é por eles que ela nos dá alguma respostas.

Por meio dos personagens é possível tirar grandes aprendizados. De acordo com Luzia, muitas foram as situações percebidas, algumas semelhantes, outras bastante diferentes, mas em geral é evidente que de nada adianta apenas uma das partes amar, ser generoso, ser paciente, agradar. Chega uma hora que esse lado cansa e aí dificilmente o processo se rever.

Com a experiência do livro e a formação em coaching, Luzia mergulhou no assunto, fez palestras, participou de workshops sobre relacionamento e desta experiência viu mais resultados surgirem.

Nesta entrevista ela fala dela, do seu livro, da sua vida, dos projetos e da experiência de uma pessoa que se dedica a pessoas. Vamos conhecê-la:

CK – Quem é Luzia Almeida Gonçalves Kuntzel? Como você se define? Tem filhos, tem cachorros, gatos? No dia a dia, o que faz, o que gosta de fazer?

Luzia – Diria que sou alguém em constante construção. Busco autoconhecimento para conseguir me expressar de forma que as pessoas me vejam o mais próximo possível de como eu me vejo. Nasci e me criei em Campo Grande – MS, então lá se vão quase 47 anos vivendo nessa cidade, mas tenho um comichão de vontade de bater asas para outras paragens. Atuo há 27 anos no serviço público. Aprendi muito, mas também tive muitas decepções, que me fizeram começar a ver e pensar fora da caixa. Costumo dizer que não respiro apenas minha profissão. Tenho um compromisso com a instituição, mas meus olhos estão mesmo voltados para outras coisas que a vida nos proporciona.

Sou casada e tenho um lindo filho de 20 anos que, atualmente, não mora comigo, pois faz faculdade em Curitiba. Não tenho bichinhos de estimação. Tive muitos na minha infância, quando morava no mato, onde tinha muito espaço. Há quase 20 anos moro em apartamento e, mesmo sabendo que a maioria dos bichinhos hoje se adapta a pequenos espaços, nunca curti muito a ideia de vê-los emparedados, praticamente tolhidos em sua liberdade de ir e vir. Amo viajar, estar com a família, com meus amigos (que não são muitos, mas os que tenho são especiais), comer pizza sem usar os talheres, acordar com o majestoso sol iluminando o dia, vê-lo se pondo no horizonte, deixando cores matizadas no céu e, também, de parar tudo que estou fazendo para me encantar com lua, especialmente quando ela está esplendorosamente cheia. Gosto da rotina simples do dia a dia, como ver filme ou série, juntinho com meu amor, ir ao cinema, passear no shopping ou tomar água de coco vendo o Parque das Nações Indígenas (coisas que não são mais possíveis de fazer, por enquanto).

CK – Quantos livros já publicou? Você chama de dom, paixão ou profissão o gosto pela escrita?

Luzia – Publiquei um livro: Crescer, Casar, Separar… e agora? No meu caso, vejo como uma paixão. Desde muito pequena amava ler, escrevia diários e sonhava em escrever um romance. Talvez esteja errada, mas, realmente penso que, quando há vontade, qualquer pessoa é capaz de escrever um livro. Independentemente do conhecimento profundo de algum tema ou da língua portuguesa. Sinto que as pessoas, apesar da vontade, ainda têm medo de escrever. Acho que seria importante desmistificar isso. Cada um tem a sua história, cada um é autor da sua própria história, e, se realmente há a vontade, certamente qualquer um pode escrever um livro.

CK – No livro Crescer, casar, separar e agora, você explorou a vida real, falou de amores e de desilusões. Conte como foi essa experiência e de onde vieram os personagens.

Luzia – Foi uma troca de experiência incrível com cada uma das pessoas que se propôs a contar sua história de separação. Teve choro, teve risada, teve silêncio, um silêncio que fazia doer por dentro. Durante os bate-papos foi possível perceber que até cada um descobrir que o relacionamento não tinha mais combustível, que o posto de gasolina mais próximo ficava do outro lado do mar e que não tinha mais como chegar lá, lágrimas foram derramadas, palavras erradas foram ditas a mágoa, a decepção, tudo se transformou em dor, que foi rasgando por dentro foi como sentir a pior dor de dente, ou a aquela terrível crise renal, ou ainda a insuportável enxaqueca. Só que essas dores se curam com o tempo.

A dor das consequências da separação não tem remédio que cure o tempo ameniza, o apoio dos amigos e da família mantêm um certo equilíbrio, um novo amor é um bálsamo, mas, dificilmente quem passou pela experiência será a mesma pessoa.

Ficam as marcas… algumas profundas, outras superficiais… mesmo necessário, o divórcio, às vezes, traz em si uma carga de fracasso e impotência.

Não foi fácil relembrar cada bom momento e também cada momento difícil, porque quando a gente fala em separação, não é separar a roupa velha do armário que não serve mais, ou separar o que já venceu na despensa, nem jogar a cebola que já estragou. Lidamos com vidas, com gente, com sequelas. De sonhos desfeitos. De juntar os cacos e optar por colar… ou não.

Porque tudo isso implicou também nas lembranças. Dos momentos de solidão, que não foram poucos, dos “amigos” que sumiram porque já não cabíamos mais no círculo de amizade. Dos amigos verdadeiros, que nos defenderam e nos apoiaram e, muitas vezes, nos colocaram no colo e nos viram chorar. Tudo são lembranças. Doloridas. Que o tempo, nem mesmo o tempo, muitas vezes, não é capaz de apagar.

Em algum momento bateu aquele sentimento de culpa, de arrependimento, de não ter contado até dez, de não ter colocado um gole de água na boca (para impedir de falar) e ter esperado até a raiva passar. Então, fizemos a descoberta de que a decisão foi a mais acertada, de que foi o melhor a ser feito, mas isso não nos impediu de sofrer e chorar e de saber que não dá para dormir e acordar sem passado. Sem memória. E, nesse momento, lembrei da frase de um jornalista, numa palestra sobre as dificuldades e o sucesso da profissão, que se encaixa muito bem à realidade de uma separação:

O dinheiro compra quase tudo, novo carro, nova casa, nova mulher, novo marido, novo rosto… só não compra um passado novo.

Depois de tirar a sujeira debaixo do tapete que precisava ser jogada fora, ou seja, os sentimentos que se mantinham durante e depois da separação, muitos perceberam que as marcas de cada relacionamento não se foram por completo, mas se tornaram apenas lições e que amar e perder, de certa forma, faz parte da vida.

Para mim, foram grandes aprendizados e, o mais importante, senti que não estava sozinha em minhas dores. Havia me separado e a ferida ainda não estava cicatrizada, mas, ao finalizar o livro (inclusive com a minha história), criou-se uma fina pele sobre a cicatriz e, daí para frente, minha alma ficou mais leve.

Os personagens eram, em sua maioria, meus amigos, mas tiveram amigos de amigos e, até, uma paciente da minha terapeuta. Homens e mulheres de faixas etárias variadas, mas todos com um sentimento em comum: a dor da separação.

CK – Você chegou a alguma conclusão do porquê as pessoas se separam?

Luzia – Muitas foram as situações, algumas semelhantes, outras bastante diferentes, porém o que, na minha visão, ficou claro é que um relacionamento não sobrevive se não houver amor, fidelidade, cumplicidade, parceria (a famosa via de mão dupla), generosidade e bondade no uso das palavras e nas ações do dia-a-dia, paciência e conhecer o outro suficientemente para deixar o “reservatório do amor” sempre cheinho (dá para entender melhor isso quando se lê o livro As Cinco Linguagens do Amor). Mas, de tudo isso, ainda enfatizo que o principal é a via de mão dupla, pois de nada adianta apenas uma das partes amar, ser generoso, ser paciente, agradar. Chega uma hora que cansa e quando isso acontece o relacionamento começa a “descer ladeira abaixo” e se o outro perceber e não fizer nada para mudar essa realidade, será o início do fim.

Para mim o sucesso de um relacionamento está em observar os pequenos detalhes do dia-a-dia, regando as atitudes positivas (lembrar sempre do que os fez se apaixonar é uma bela forma de enxergar as qualidades de quem está ao nosso lado).

E, por último, “esvaziar o copo” em cada discussão ou divergência de opinião, para que esses pequenos desentendimentos não sejam capazes de minar o amor.

CK – Sei que você é escritora, jornalista e servidora pública. Fale sobre isso e se faz mais alguma coisa, conte também?

Luzia – Formei-me em Jornalismo, por paixão, mas não atuo na área. Fiz uma formação em coaching para, além do autoconhecimento, poder ajudar as pessoas, mas meu maior tempo ainda é dedicado ao serviço público. Sinto que minha missão é me doar às pessoas, ajudando-as de alguma forma. Meu trabalho me permite fazer isso, porém sinto que ainda me limita. Por isso estou em um processo de autoconhecimento, de balanço da vida, para que eu posso encontrar meios de realizar meu propósito.

CK – Como você vê o mercado de e-books e de livros de capa comum, no Brasil?

Luzia – Creio que e-books sejam a nova tendência, ainda mais com tantas possibilidades de publicação de forma gratuita. Livros de capa comum imagino que ainda farão parte por muito tempo das nossas vidas. É prazeroso sentir o cheiro do livro novo, passar os dedos pelas folhas, destacar a parte que mais chamou a atenção. Não que no e-book não seja possível fazer isso, pelo contrário, a tecnologia avança mais e mais para suprir as necessidades das pessoas que ainda preferem o livro de capa comum e poder ganhá-las para esse mercado, mas acho que todos têm seu espaço. O que vejo é que e-book desburocratiza a publicação de livros, o que torna mais acessível às pessoas que sonham em terem seus livros publicados.

CK – Sei que fez e faz palestras sobre relacionamentos. Fale sobre essa experiência.

Luzia – Como disse no início, estou em construção e gosto de estar aberta a novas experiências. Com a publicação do livro surgiu o convite para fazer um workshop sobre relacionamentos. Então, me joguei de cabeça e estruturei algo prático, que tinha como principal objetivo fazer com que as pessoas conseguissem perceber o quanto suas atitudes estavam impactando positiva ou negativamente seus relacionamentos. Em todas as experiências realizadas, ao final, as pessoas vinham dar feedbacks, relatar suas impressões e o que as tinha feito enxergar. Não há nada mais emocionante do que sentir que tocou a alma daquelas pessoas, e deixou ali alguma semente do bem, que as ajudasse em suas caminhadas. É como se você se inundasse de alegria e realização.

CK – Comente outros projetos.

Luzia – Depois de longos anos sabáticos, onde deixei um pouco de lado meus estudos, estou retomado a ideia de escrever um novo livro. Dessa vez com mais leveza, coisa que só o amadurecimento nos traz. Li há algum tempo essa frase “Feito é melhor que perfeito” (Sheryl Sandber), que significa que quando você quiser realizar algo, dê o primeiro passo, porque se não fizer isso você acaba colocando várias barreiras e desculpas para dar o start inicial.

Querer deixar algo 100% perfeito para lançar pode ser o stop, o fim de algo que nem começou. Então, a ideia é iniciar e deixar rolar.

CK – Conte-me algum sonho, algum desejo.

Luzia – Sonho em ver meu filho encontrar alegria e sucesso na vida pessoal e profissional. Ver minha mãe completar pelo menos 102 anos como meu avô (pai dela) e, também, junto com meu esposo, fazer do mundo o quintal da nossa casa. Ter a oportunidade experienciar novas formas de viver, sair do quadrado emparedado que vivemos, tirar as amarras que a zona de conforto nos proporciona e, principalmente, ter saúde para vivenciar isso. Evoluir, me tornar uma pessoa melhor e deixar o legado de ter sido alguém que ajudou pessoas, que fez o bem. É isso.

Indicação de livros:

Crescer, Casar, Separar… e agora? – Luzia Gonçalves

A Qualidade de Vida na Prática – Higya Alessandra Merlin

Fora de Mim – Martha Medeiros

O Monge e o Executivo – Uma História sobre Essência da Liderança – James C. Hunter

As 5 Linguagens do Amor – Gary Chapman

4 thoughts on “Relacionamentos são vias de mão dupla e só sobrevivem com amor e fidelidade

  • 14 de julho de 2020 em 15:36
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    Amei essa entrevista também! Luzia é uma amiga querida e que passei a admirar ainda mais depois de tudo que li aqui!!

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    • 15 de julho de 2020 em 13:39
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      Ah Rô!! Você é que tem a minha admiração! Sua história de vida é exemplo para muitos! Apesar da enorme distância que nos separa, fico muito feliz por termos a tecnologia a nosso favor, que nos aproxima! Obrigada pelo carinho! Um beijo enorme para você!

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  • 10 de julho de 2020 em 09:41
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    Amei essa entrevista. Tenho o livro ( autografado) da ESPECIAL Luzia com muita honra e só pra constar li mais de uma vez😍

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    • 15 de julho de 2020 em 13:35
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      Amada amiga!! Você faz parte da minha caminhada de vida, das alegrias, das tristezas, de ver nossos filhos crescerem, de ver a lua cheia sentadas no meio fio da Afonso Pena. Obrigada pelo carinho e por ser essa amiga incrível!! Beijo enorme!

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