As pessoas, em geral, são convictas que pessoas criativas, capazes de ter ideias geniais, são aqueles seres de hábitos diferentes, que viram a noite sentados em algum ambiente esquisito e, do nada, aparece uma grande ideia. Um insight, uma clareza súbita na mente, uma iluminação, um estalo, uma luz. Nada disso. Vamos refletir sobre onde estão as ideias.
A compreensão ou a solução de um problema de forma súbita acontece sim, mas é pela conexão mental de elementos que estão na sua memória e que encontram uma relação adequada para ser compreendida como uma ideia, muitas vezes genial.
Gente criativa é gente preparada
A argumentação de Austin Kleon (2012), no livro “Roube como um Artista – 10 Dicas sobre Criatividade” é bem esclarecedora. Partindo de “Não há nada de novo debaixo do sol” (Eclesiastes 1:9), você começa a perceber que precisa colar em gente criativa, dinâmica, copiar seus ídolos até a exaustão, ler muito, conhecer muito, ser multitarefas, para então começar a ser você, ser “original”, ser alguém que ou fazer algo para o qual paguem você para ser ou fazer.
Austin fala da diferença entre plagiar, copiar, pesquisar e criar. Fala da necessidade que temos de aprender a trabalhar.
“Não invente desculpas para não trabalhar – faça coisas com o tempo, o espaço e os materiais que você tem, agora mesmo”.
Muitas vezes, vivemos num futuro que pode não vir ou numa eterna desculpa de que nos falta isso ou aquilo para então sermos quem deveríamos ser. Errado: somos o que somos agora e com o que temos.
Criatividade é um conjunto
Assim, criatividade é um conjunto de conhecimentos ligados de formas diferentes. Se eu leio dez livros, terei dez autores expondo seu conhecimento. Posso vê-los isoladamente, como posso unir os raciocínios e criar um novo. Então, ele não é tão novo, ou, aliás, não existe nada novo debaixo do sol. Um pintor iniciando sua carreira copia seus autores favoritos, imita mesmo. Só depois de muita imitação é que ele chega ao ponto de ter um trabalho autoral.
Copiar alguém sem dar crédito é plágio, copiar, dando crédito, é imitação, usar suas técnicas é inspiração, referência e misturar técnicas é estilo, escolha, resultado de pesquisa, estudo e evolução própria. Portanto, não existe nada original. Quando alguém diz que é original ou inédito, é possível apenas que não saiba quem veio antes dele ou quem são suas referências. O que acontece é que a criação vem da junção de conhecimento.
Ideias são resultado de conhecimento
Por isso, ideias originais não saem de algum lugar especial, tampouco de pessoas diferentes com hábitos estranhos. Então, ideias são resultados de conhecimento, raciocínio e esforço próprio. Quer ter uma grande ideia e não consegue sozinho? Divida suas dúvidas com um grupo de pessoas, e esse grupo vai dar-lhe as respostas que faltavam.
Esse é o brainstorming, que é um método criado nos Estados Unidos, pelo publicitário Alex Osborn, usado para testar e explorar a capacidade criativa de indivíduos ou grupos, principalmente, nas áreas de relações humanas, dinâmicas de grupo e publicidade e propaganda (Significados.com.br). Eu chamo mesmo é de “toró de ideias”.
E tem mais, as ideias não estão nos computadores, no mundo digital, as ideias estão no seu conhecimento e na sua perícia em torná-las reais. Então, se você partir direto para o computador para criar algo, você estará diante de milhares de possibilidades, e, pior, com um recurso derrotista da criatividade: o botão de delete.
Muitas ideias morrem nas desculpas
Metaforicamente falando, vejo pessoas, antes de qualquer tentativa, mandando a máxima: “não sei usar photoshop!*” *Leia-se: Photoshop como qualquer ferramenta capaz de tornar virtual uma ideia. Essa é a desculpa do “não sei fazer” ou do “não tenho capacidade para fazer”. Colocar em prática uma ideia não concorre com a sua limitação digital.
Como na sociedade contemporânea muitos dos processos de produção iniciam no mundo virtual, fica a dica de Austin (2012), que defende: “Seja também analógico, não apenas digital”.
Para ele, por exemplo, o ideal é ter duas estações de trabalho, uma digital e uma analógica, com materiais escolares mesmo, lápis, caneta, regra, tinta, recortes, cola e tudo mais que você entender importante. Escolha seus objetos, a partir do que imaginou, e parta para a junção, formatação analógica. Rabisque, pinte, escreva. Alguma coisa virá de tudo isso. Depois, passe para a estação digital e finalize.
Concluindo e recordando: imite alguém. Copie alguém ou alguma coisa. Aprenda a observar e a reproduzir. Com o tempo, assim como aquela pessoa que quer aprender a tocar violão ou guitarra, os acordes irão melhorando e, por fim, há o domínio do instrumento. Isso depende da sua dedicação. Então, agora dá para dizer onde estão as ideias.