O Fusca é fruto de um projeto revolucionário, inaugurou uma nova fase na produção automobilística, já foi objeto de desejo, esteve na garagem de quase todo brasileiro e pouco mais de 30 anos depois da fabricação do último modelo, ele ainda é visto em grande quantidade pelas ruas da cidade. Qual o segredo disso?
Fusca, joaninha, besouro e muitos outros apelidos carinhos, destacam este guerreiro de história longa que permanece nas ruas. Quem pensa que é só por beleza ou relíquia, está enganado. Em qualquer rua você encontra um, dois, ou até três e muito andando como carro da família ou de trabalho. Os que circulam por aqui, em sua grande maioria são de fabricação nacional, oriundos das décadas de 1960 a 1990, mas a história desta fera já tem mais de 80 anos.
O segredo desta existência é calcado, entre outras coisas, na simplicidade do motor refrigerado a ar, a lataria resistente, com peças de fácil substituição e o mais importante de tudo, com peças de reposição disponíveis, aos montes, em ferros-velhos, em autopeças e até concessionárias. Os proprietários são de vários perfis também: herdeiros, apaixonados e necessitados (isso mesmo, tem gente que comprar por ser “barato e bom”).
Fomos conhecer aqueles que não são colecionadores e descobrimos que as experiências com fuscas vão de amor a ódio. Encontramos um proprietário de um modelo 1975, bege, que adquiriu por necessidade de transporte e está com ele há três anos e hoje é o “Pocotó”, como foi carinhosamente apelidado por um amigo.
Já o perfir do proprietário restaurador prefere os modelos da década de 1960, usa calotas comadas, pneus de faixa branca e vários detalhes de para-choque, volante e retrovisores, que só os modelos dessa época tinham. Outros utilizam somente a estrutura de fusca mesmo e colocam rodas esportivas, volantes modernos, mecânica injetada e muito mais. Tem com ferrugem, tem meio torto, tem os impecáveis e até algumas releituras, com duas cores em modelos da década de 1970, que nem mesmo o fabricante ousou fazer.
O que poucos sabem sobre o fusca é que ele foi um divisor de águas na indústria automobilistica. O mais barato dos carros sempre foi o Fusca, criado inclusive com este propósito. Foi o primeiro a superar a marca de vendas do Ford T (15 milhões contra 21 milhões do fusca) e a criação do projeto e dos primeiros protótipos datam de 1932.
A versão final, com motor refrigerado a ar, com quatro cilindros e fabricado em série, ainda na década de 1930, foi assinada pelo projetista de carros austríaco Ferdinand Porsche, para atender a uma solicitação especial de ninguém menos que Adolf Hitler (pois é, mas isso é história). Nessa época Hitler havia ascendido ao poder na Alemanha, estando comprometido com a modernização do país e a recuperação da economia, principalmente do emprego.
Hitler queria um carro econômico e que fosse capaz de carregar a típica família alemã: um casal e três filhos. Posteriormente, com a guerra, o projeto se transformou num veículo de guerra eficiente. Mas, após a guerra, a zona alemã que fabricava o Volkswagem, chamado de “Cidade KdF”, foi rebatizado para Wolfsburg, ficou sob o controle dos britânicos. O comando da fábrica ficou nas mãos do Major Ivan Hirst, que se tornaria um apaixonado pelo Fusca e retomou a produção.
Mesmo com sua forma incomum de carro da época, com motor traseiro e seu desenho arredondado, sem radiador (para colocar água), o pequeno foi ganhando fama, inclusive de “indestrutível”. A mecânica simples, com menos coisas para dar errado, e pelo grande esquema de distribuição de peças sobressalentes, o Fusca foi, e é, um sucesso histórico, que colocou a Volkswagem em posição privilegiada na indústria automobilística.
A partir de 1950 ele começou a ser importado para o Brasil. Dois anos depois (pasme) a Brastemp (na época Brasmotor) começou a montar o modelo nacional. Em 1953, a Volks chegou e o último modelo brasileiro foi fabricado em 1986. Por sugestão do então presidente Itamar Franco, voltou a fabricação em 1993, mas durou pouco. Em 1996 a empresa deixou de produzir novamente. Depois disso, surgiram releituras do Fusca, como o New Beetle e recentemente o próprio Fusca, mas em outras condições de mercado, não com o mesmo objetivo de popularidade que teve no começo.
Para os apaixonados, restam os exemplares que rodam pelas ruas, “indestrutíveis” e o dia 20 de janeiro para a comemoração do Dia do Fusca.
Na Amazon é possível encontrar livros como a Verdadeira História do Fusca, para aprofundar mais esse conhecimento.
Futurologia – O fusca talvez venha a ser o símbolo de uma era que deixará de existir com o fim dos motores a combustão, previstos para 2030, e com a introdução de carros autônomos, que por sua natureza reformularão a disposição interna inaugurada com o fusca, no qual prevalecem cinco lugares, dispostas em dois bancos dianteiros e três lugares atrás.
As pessoas utilizarão o interior dos veículos para outros afazeres e assim isso deve ser revisto, depois de praticamente 100 anos. Assim, sem cunho científico alguma, mas por convicção, podemos dizer que o Fusca inaugurou uma nova era mundial e a primeira superação do modelo está próxima.