Viviane Nunes
Boa parte das lesões e dores provenientes do Crossfit está associada a um desajuste da capacidade do praticante com a demanda aplicada nos treinos. Ou seja, muitas vezes o praticante dessa modalidade, quando dá início às atividades, já vem com lesões prévias de outras práticas. Por isso a necessidade de um acompanhamento especializado. Quem explica essa situação é o médico ortopedista e especialista em joelhos, Roberto Cisneros. “Alunos realizando treinos com grande sobrecarga também prejudicam o gesto esportivo”, explicou.
O crossfit é uma das modalidades que vem ganhando cada vez mais adeptos. Tem o objetivo de dar força e resistência ao praticante. Durante o treino, dez aptidões físicas são trabalhadas, entre elas: resistência cardiorrespiratória, resistência muscular, força, flexibilidade, potência, velocidade, coordenação, agilidade, equilíbrio e precisão.
A grande questão, no entanto é: o Crossfit realmente tem uma maior incidência de problemas físicos do que outras modalidades? Quais as partes do corpo mais sofrem?
Estudo desenvolvido no Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício da Universidade do Estado de Santa Catarina em 2018, realizou uma revisão sistêmica do perfil de lesões entre os praticantes de crossfit e concluiu que a taxa de lesão variou de 1,94 a 3,1 lesões a cada 1.000 horas de treinamento, o que é considerado uma incidência baixa. Como comparação, “foram encontradas taxas de 2,3 a 33 lesões na corrida de rua, 2,5 no handebol, 5,4 no triatlo, 5,45 na ginástica, 9,6 no futebol e 26,7 no rugby, a cada 1.000 horas de treinamento”, como explicam os pesquisadores.
Neste mesmo estudo, foi apontado que as regiões do corpo mais acometidas por lesões foram os ombros, seguidos pelas costas e joelhos, com cotovelos também afetados.
Principais lesões do crossfit
“As lesões no joelho, área da nossa atuação, podem constituir o maior número de lesões. A lesão traumática direta (pancada), ou mesmo as indiretas, não são as mais comuns. O aparecimento de dores em joelho em atletas praticantes do crossfit são muito mais decorrentes da prática esportiva errada e aqui, leia-se como ‘erradas’, as sobrecargas articulares impostas a um joelho não protegido adequadamente por sua estrutura músculo ligamentar, ou não treinada e desenvolvida para aquele nível de trabalho físico imposto”, explica o especialista.
Assim, a frequência, repetitividade, nível de cargas exageradas, bem como a prática do esporte em grupos de atletas, levando em consideração a idade, peso e nível esportivo, podem acrescentar os ingredientes essenciais para o desenvolvimento do sofrimento articular, podendo ser seguido logo ou mais tardiamente pela dor. Dessa forma, o médico orienta: “se estiver praticando alguma atividade no crossfit e sentir dores, estalos ou crepitações no joelho, interrompa o exercício e procure um especialista”.
O diagnóstico e o tratamento precoces são essenciais para se evitar o agravamento de possíveis lesões nos tendões, cartilagens e muitas delas podem ser de difícil tratamento e também de recuperação.
Fatores que levam às lesões
Quando o assunto são lesões nos esportes é necessário avaliar sua ocorrência, observar o condicionamento físico do praticante, sua técnica e condições gerais como sexo, idade e prática de outras atividades em conjunto. Mas um consenso entre os médicos e pesquisadores é que uma das principais causas pelas quais os praticantes se machucam é tentar ultrapassar seus limites com muita velocidade e não respeitar o tempo de sua evolução na modalidade.
Me lesionei, é possível retornar ao crossfit?
É um mito pensar que após se lesionar, a pessoa não possa retornar às atividades de crossfit. Doutor Cisneros afirma que o objetivo do tratamento médico ortopédico é recolocar o indivíduo no mesmo nível esportivo em que se encontrava antes de se lesar e isso é feito com cirurgias seguidas de reabilitações ou somente com reabilitações.
Segundo ele, o que deve ser levado em consideração neste retorno é, a princípio, um diagnóstico correto do tipo e nível da lesão, a instituição do melhor tratamento para àquela lesão, a participação e a colaboração efetiva do paciente na reabilitação, e finalmente o treino e recolocação física do atleta no esporte.
O especialista é enfático em afirmar que é quase sempre possível voltar plenamente ao esporte após uma cirurgia, já que, atualmente, as técnicas cirúrgicas-ortopédicas avançaram muito, juntamente com os processos de reabilitação fisioterapêutica pós-operatória. Destaca-se aqui um ponto extremamente importante após o retorno ao esporte após uma cirurgia, que é o trabalho preventivo para novas lesões, inclusive a prática de treinos esporte-específicos na prevenção.
“A prática esportiva é essencial para o bem estar humano e longevidade, porém realize atividades que seu corpo se adapte e suporte da melhor forma com o objetivo de evitar lesões, e quando houver qualquer indício de que possa haver algum problema com seu corpo, interrompa a sua prática e procure um especialista imediatamente para evitar possíveis danos futuros”, conclui.